A era das viagens por likes e selfies
Eu ia colocar um adjetivo no título, mas poderia soar antipático e a idéia do post não é essa. Até porque poderia parecer hipócrita, principalmente vindo de uma blogueira de viagens. Mas aí que está o ponto... eu que sou blogueira e bem ou mal lido com isso há 8 anos, ok, o blog tem isso mas os "likes" e as selfies não... teoricamente eu deveria ter mais tolerância, até tive, mas definitivamente já esgotou.
Viajar em busca de bons momentos ou de fotos perfeitas para ganhar likes?
O que mais tenho visto em lugares turísticos são pessoas deixando de curtir a viagem ao vivo para curtir através da tela dos smartphones. As pessoas estão em lugares que sempre sonharam e pelo qual juntaram uma grana para isso, e passam o tempo todo com o smartphone na mão para filmar, fazer a foto perfeita, seja selfie ou não, apenas para publicar nas redes sociais e mostrar que estão viajando.
Isso acontece porque na maioria das redes sociais (eu tiro o Twitter dessa lista) existe uma prática nada saudável de postar uma vida perfeita, onde tudo é perfeito, inclusive as viagens, as fotos e as selfies. Uma "vida" perfeita em busca de likes, curtidas, comentários, compartilhamentos, e etc.
De novo, não estou cuspindo no prato que sempre comi (prato = redes sociais)... Sempre é maneira de dizer.. afinal comecei a viajar muito tempo antes da existência das redes sociais, na época que nem GPS era usado, viajava com mapa de papel, máquina fotográfica analógica e 10 rolos de filme de 36 poses para uma viagem inteira! Sim, era assim que eu viajava, e digo mais, assim eu aproveitava muito mais a viagem, pois não tinha a neurose de fotografar tudo em diversos ângulos e poses até chegar no clique e foto perfeitos.

Quando falo neurose, falo por mim mesma, e quando falo dessa era chata de viagens, falo também de mim. Ao menos posso dizer que não tenho tantos problemas com selfies, não é algo que eu curta fazer. Mas isso de tirar fotos de tudo em todas as posições, sim, faz parte da minha neurose. Pelo menos eu tenho a consciência de que o problema em mim é em função do blog, da vontade de contar e mostrar tudo com detalhes para os leitores. Mas não precisava ser assim, e não era quando comecei a blogar... Na época bastavam 3 fotos ou até menos pra ilustrar o post, e a foto era literalmente o que menos importava.
Também não é de hoje que tem gente falando para que as pessoas larguem seus smartphones para curtir o momento com quem está perto, seja na mesa de um restaurante, no almoço de família, em festas, shows, e etc. E eu incluo nessa lista as viagens. E quando falo incluir, é colocar como um 'dever de casa" para mim mesma. No dia a dia já venho tentando fazer isso, e acreditem, foi a pedido das minhas filhas que reclamaram do meu relacionamento com meu iPhone. A ficha cai quando 2 crianças dão esse toque, e por mais que na hora eu tenha explicado que era para postar no blog, não convenci nem elas e nem a mim mesma.
Claro que o processo é de largar um vício... passei boa parte dos últimos anos com o iPhone na mão, seja no Twitter, Facebook, Instagram, Periscope, Whatsapp , Tumblr e por aí vai... Onde eu podia, desabilitei as notificações no telefone e assim venho tentando aproveitar mais os momentos. Seja viajando, passeando ou em casa com minhas filhas. Mesmo tirando muitas fotos, o número tem diminuído consideravelmente. Mas, para isso precisei de outra coisa: desencanar de que tudo precisa de fotos no blog, ou de fotos perfeitas. Até porque se eu falo (e faço questão de escrever no blog) que nem todas as viagens são perfeitas, por que as fotos, o blog e eu seríamos perfeitos?

Quando a busca pela selfie "perfeita" ultrapassa o bom senso e coloca vidas em risco
Quanto às selfies, há pouco tempo a Fernanda do blog Preciso Viajar fez um post super bacana a respeito (leia post aqui) . Só acrescento ao post dela algumas observações que fiz ao longo da semana: as pessoas estão fazendo de tudo por selfies "perfeitas" e com isso correndo risco de morrer, ou mesmo chegando a esse fim. Só essa semana eu li sobre um casal paulista que estava em Cabo Frio fazendo uma selfie na pedra e as ondas da ressaca os derrubaram no mar (o homem morreu, a notícia está aqui). Li também de um turista chileno que foi atropelado por um trem em Machu Picchu , só ficou ferido, ainda bem (notícia aqui) . E olha que esses dois casos eu selecionei com critério, justamente por se tratar do tema do blog: viagens. Eram pessoas viajando e que ao invés de curtir o lugar, resolveram se arriscar para fazer uma selfie "perfeita" , e ninguém faz esse tipo de selfie para esconder dos outros, a intenção é sempre a busca de likes nas redes sociais.
Eu fico imaginando o que se passa pela cabeça das pessoas... isso porque com o blog respondo várias dúvidas sobre seguro viagem, sobre onde ir e onde não ir por questões de segurança nos destinos, o que mostra que as pessoas se preocupam com a segurança na viagem, mas na hora da selfie, isso muda de figura... Eu poderia bancar a "mãe" e falar: vale a pena? Mas é óbvio que todos vão concordar que não vale, o que não quer dizer que na próxima viagens não farão algo parecido. Por isso, em vez de dar uma de mãe, eu prefiro dar dica da blogueira mesmo: curta a viagem, faça fotos mas não se esqueça de que o momento não volta, mesmo que você retorne ao destino, vai ser um momento diferente. Nesses 8 anos de blog, tudo que escrevo aqui é sobre as experiências que tive, e não sobre as fotos que tirei. E garanto, as experiências escritas em um blog, contadas em uma mesa de bar ou no almoço de domingo com a família, são muito mais interessantes do que as milhares de fotos que trazemos hoje em dia na memória das nossas máquinas fotográficas ou celulares. Até porque pouquíssimas pessoas terão paciência de ver todas as fotos da sua viagem (nem da minha e nem da viagem de qualquer pessoa).
Eu viajo COM e SEM minhas filhas
Resolvi escrever esse post porque foi assunto essa semana em uma conversa com amigas, sobre quem viaja sem as crianças, seja sozinha ou com o marido. E vi que o comportamento das mães tem mudado bastante, e que hoje muitas valorizam e fazem questão desse tempinho pra elas e pro casal.

Eu mesma já tive uma cabeça totalmente diferente da que tenho hoje, e que inclusive era motivo de discussão com o então marido e pai das meninas, pois ele queria viajar a dois e eu queria levar as duas para tudo quanto é lugar. Nessa "brincadeira" acabei me aborrecendo em Paris, por conta de tudo que narrei no post Paris... linda ,mas proibida para menores... . Não era a minha primeira vez na cidade, o que ajudou no sentido de não criar uma antipatia e nunca mais voltar, mas me mostrou que mesmo um lugar que é unanimidade no gosto de viajantes pode não ser tão incrível e chegar a ser quase desagradável em alguns momentos se você resolve levar dois bebês.

Mas, mesmo depois disso eu tive dificuldade de me desgarrar delas e viajar.. falava que não ia abandonar as duas com babá, envolver mãe, e viajar por um período longo. Foi com a separação que acabei tendo que me desgarrar delas um pouco, afinal, elas precisavam ficar um tempo com ele também. Depois da primeira viagem dele com elas, de 12 dias, os quais eu quase morri de saudade, eu resolvi planejar a minha primeira viagem sozinha depois do nascimento delas. O destino : meu paraíso no Brasil, Fernando de Noronha. Já conhecia a ilha e fiz um roteiro de 6 dias, o suficiente para matar a saudade, mostrar tudo para a minha amiga que não conhecia e ao mesmo tempo não ficar muito tempo longe delas. Foram 6 dias me redescobrindo, fazendo coisas que a Flávia , mulher, viajante, curte, e não o que a Flávia mãe acha que vai ser bacana com as meninas ou que a Flávia mãe curte fazer com as meninas. Porque eu curto mergulhar, com cilindro, de snorkel, eu curto fazer trilhas, coisas que com elas é complicado fazer. E pude fazer tudo que não fazia há muito tempo, e pode parecer piegas, mas a gente acaba esquecendo do que gosta quando é mãe, e acabou sendo um momento de acordar e ver que dá sim para ser mãe, ser mulher, ser viajante com família e sim, ser viajante sem família.

Tomei gosto por esses momentos meus, comecei a planejar e sonhar com viagens nesse estilo, ecoturismo, que sempre curti e que muitas vezes não é viável com as duas. Assim como enoturismo, algo que também já curtia antes delas nascerem e que também não "harmoniza" muito bem com viagem em família. Esse tempo meu me renova e eu volto morrendo de saudades e revigorada para cuidar delas, brincar, sair e claro, viajarmos juntas. Claro que meus planos são na maioria com elas, e focada nelas, como foi a viagem pra Gramado e Canela, onde sequer fui à vinícolas, mesmo estando pertinho. A programação era infantil, só pra elas, e elas acabaram saindo de lá falando que foi melhor que Disney de tanto que brincaram! Mas deixo sempre um destino, uma viagem separada, pra fazer sozinha. Até porque não dá pra esperar elas crescerem para encarar uma trilha como a do Jalapão,se já foi difícil agora, imagina com mais 10 anos? Eu pararia na UTI rs.

Vejo (algo como estatística de pais de amiguinhos delas), que casais que fazem isso, viajam a dois, também ficam mais leves, mais unidos, e que esse tempo só para eles dá aquela sacudida na relação. É aquele tempo para voltar a namorar, lembrar do porquê de estarem juntos, de tirar do piloto automático e voltarem a se curtir. Lembro até que quando fui no programa Encontro da Fátima Bernardes falar de viagem com as crianças, tinha uma historinha com atores , com enquete, justamente sobre o assunto, se o casal deveria viajar sozinho ou com os filhos. Aos poucos a história contava que o pai estava carente da esposa, como acontece muito por aí, envolvida com trabalho e filhos, sem tempo pra ele. Naquela história eu daria como sugestão dividir.. um pouco só o casal e um pouco com os filhos. Afinal a família existe porque o casal existe, e eles estarem bem entre eles, felizes como casal, faz com que a família fique também.
E vocês, o que acham? Viajam com e sem filhos também?