Já estava pra escrever esse post e simplesmente aconteceu tanta coisa sobre o assunto que resolvi fazer logo e contar tudo de uma vez. Como muitos já sabem, estou morando aqui em Aventura, que fica no Miami Dade, Flórida, há 7 meses. E claro, meninas precisam estudar, e pra minha surpresa, isso não está batendo com a minha expectativa.

Escola em Miami
Escola em Miami

O sistema americano 

O sistema americano é assim: crianças têm que entrar na escola pelo menos aos 6 anos. Inclusive se não frequentar e um vizinho denunciar os pais, pode gerar um mega problema e até prisão. Aqui também tem escola pública e escola particular, sendo que a pública é frequentada pela maioria da população, e normalmente são consideradas boas.  Se a opção for escola particular, você pode escolher uma que fique em qualquer lugar, mesmo distante de casa. Mas se for uma escola pública, a criança estuda na escola que abrange a região de onde ela mora. Por isso aqui as pessoas primeiro procuram as escolas que querem colocar os filhos e depois escolhem a casa. Normalmente é uma grande escola, e abrange um território grande. No caso da escola delas, pega Aventura e a partir de um determinada série, um pedaço de North Miami Beach.

Fazer a matrícula é muito rápido, basta levar a documentação, comprovante de residência, histórico escolar e os exames e vacinas que a escola solicita, que no mesmo dia ou no dia seguinte a criança já pode frequentar as aulas. No caso das meninas, foi preciso tomar algumas vacinas que não se tomam no Brasil. Também precisei comprar uniformes, mas isso só é mais comum na Flórida, no resto do país não. Mesmo assim foi apenas a camisa com o emblema da escola. A saia ou calça pode ser de qualquer modelo na cor bege. Nos pés pode qualquer coisa, mas de preferência tênis, de qualquer cor ou formato.

Mas não tem só essa escola pública na cidade.  Aliás, já saí do Brasil com a idéia de colocá-las na Charter School  , que é conhecida por ser a melhor da região e é super perto de casa.  Bem, ela é pública mas administrada independentemente, e pelo que entendi pelo site, tem um método de ensino diferente também. Como é super concorrida, eles fazem um sorteio para ver quem vai entrar na escola. Antes de vir eu já tinha colocado os nomes das duas, e em março, quando aconteceu o sorteio, os nomes delas não estavam na lista.

Como muitos devem saber, o ano letivo começa entre agosto e setembro, logo depois das férias de verão que duram mais de 2 meses, e termina em junho.  Em dezembro tem apenas um período de cerca de 10 dias de férias que engloba Natal e Ano Novo, e em março ou abril, tem o spring break, que dura uns 10 dias também.

Para as crianças que não falam inglês, como as minhas, existe um programa nas escolas para ensinar a língua às crianças que falam outras línguas, que é o ESOL ou ESL . Cada escola trabalha o programa à sua maneira, umas com aulas dentro da escola e todos os dias, outras fazem em outra localidade e a quantidade de dias por semana varia muito. O programa teoricamente garante que a criança não será reprovada por 2 anos e que terá ajuda de alguém que fale a sua língua nesse período, mais tempo pra fazer as provas e dicionário à disposição.

A lista de material  (que você compra apenas se tiver condições) é  bem diferente do Brasil: cadernos, canetinhas, régua, tesoura, lápis de cor, fichários e pastas; mas nenhum livro didático. . Esses são fornecidos pela escola e ficam lá. Eu particularmente não curto, pois acho bacana ver o que vão estudar ao longo do ano , e só vejo as folhas dos livros destacadas que vêm como dever de casa, não tenho idéia do que vai ser estudado, a não ser pelo programa.

O horário das aulas é bem parecido por todo país, variando por poucos minutos.  As das meninas começam às 8:25h e terminam às 15h. Isso significa que elas almoçam na escola, e os pais podem mandar dinheiro, lancheira com comida ou pagar pelo site da escola e a criança usar seu id no refeitório para pagar o que come. Não sei ao certo os preços, mas percebo que é  subsidiado, e as crianças que escolhem o que vão comer. Entre as opções muitas não são saudáveis, como pizza, nuggets,  e isso é algo que me incomoda também.

As escolas fornecem o transporte (naquele ônibus amarelo que aparece em filme) e de graça . Você pode escolher ida e volta, ou só ida ou só volta.

As atividades After School  podem ir até às 18h e o programa é opcional.  São atividades físicas e ainda tem uma professora ajudando na tarefa de casa.   Em algumas escolas as atividades são feitas na sede, em outras , como a das meninas, eles fazem parceria com academias, professores,  e pode incluir o transporte também. Todas as atividades extras são pagas, podendo incluir ou não o transporte.

e daí que tive que chamar a polícia
e daí que tive que chamar a polícia

Nossa experiência até agora

Bem, como falei nos outros posts da série Morando na Flórida, a adaptação das meninas foi muito boa. Não teve nada de ruim de fevereiro até junho, quando entraram de férias e virou o ano letivo. Mas não posso dizer o mesmo desse retorno. Logo na primeira semana, mudaram elas de professora, pois de acordo com a escola, elas estavam em uma turma com o inglês mais avançado. Até aí tudo bem, apesar de chato, elas toparam na boa mudar de turma (que não era a mesma do primeiro semestre). E foi aí que elas entraram em uma turma com mais brasileiros e com uma professora que também fala espanhol. Eu realmente não entendo a necessidade de falar espanhol pra dar aulas para quem não fala português, mas senti que isso é uma maneira da escola facilitar o esquema de ESOL dela, isto é, com uma professora que fala espanhol, eles diminuem o tempo de ESOL ou praticamente excluem isso. Só que eu discordo, acho que o programa é pra ser feito de outra maneira. Enfim, elas curtiram a turma, já tinham amigos nela, até porque brasileiro mesmo sendo criança, se junta mesmo, e foi então que começou o problema com a professora.

Volta e meia elas falaram que a professora tinha brigado sobre isso ou sobre aquilo. Ok, pensei, é mais uma professora chata, quem nunca teve? Foi então que a tal professora começou a implicar com a mochila de rodinhas delas (acho que comentei em algum post sobre isso, era o sonho das meninas pois na escola do Rio não podia), e mandava as duas colocarem nas costas, já que é possível. Só que essas mochilas, por mais que não tenham muito material dentro, pesam mais que as outras, justamente por conta da estrutura das rodas, e claro que ficava pesada pra elas. Bem, mandei bilhete falando pra não insistir e ela nem leu. Um dia ela abre a porta do carro, na hora da saída, e reclama que a mochila delas pesa muito. Tomei um susto com a reclamação, nem respondi. Chegando em casa, no mesmo dia, Camila conta que a professora, para chamar a atenção da Letícia que estava distraída mexendo no estojo, puxou o cabelo dela. Vou até a Letícia que conta a mesma história. Enfim, fui pra escola, o pai delas chamou a advogada que recomendou que fizéssemos um report para a polícia de escolas de Miami. Fizemos isso e na escola todos pareceram chocados com a atitude da professora. Mudaram elas de turma de novo, o que foi outro trauma, porque já tinham amigos, e a professora antiga ainda está sendo investigada.

No fim de semana seguinte mais novidades… a professora colocava as crianças de castigo em pé de frente para a parede (só faltou o milho para ajoelhar) e gritava muito. Meninas começaram a contar e eu fiquei chocada, em pleno 2014, em um país desenvolvido, ainda existe isso, simplesmente inacreditável. Reforcei na escola o assunto, colocando essas novidades e ainda esperando o resultado disso tudo. Se eu já questionava a qualidade das escolas daqui por conta do método tradicional de ensino, agora então, eu questiono muito mais, pois não só o método é antigo como a forma de disciplinar também é arcaica. Estou reavaliando se mantenho elas nessa escola ou tento outra, particular. Confesso que nunca imaginei passar por isso em muito menos que meninas passassem por esse tipo de situação.