E hoje faz 6 meses que nos mudamos pra Miami. Confesso que achei que fosse mais fácil, e olha que passamos boa parte das férias do meio do ano no Rio, matando saudade da família e de amigos. Porque sim, é a saudade o que mais pesa em viver em outro país. Saudade que é uma palavra que só existe em português, e talvez por isso seja tão sentida pelos brasileiros. Não temos uma cultura de sair da casa dos pais aos 18 anos, e depois cada um morar em um estado ou país, como acontece com os americanos. Nossa ligação com a família, nossos pais, é muito mais forte  que na maioria das outras culturas.

meninas com as primas no Forte de Copacabana
meninas com as primas no Forte de Copacabana

Claro que tem gente que se adapta super bem morando fora, até porque depende das circunstâncias da mudança e da pessoa mesmo.  Vir sozinha com minhas filhas, trabalhando de casa, sem conhecer ninguém na cidade, torna tudo mais difícil. O que me deu força nesse tempo é que essa mudança tem prazo determinado, como já falei em outros posts, e em agosto de 2015 nós voltamos pro Brasil.

Acho engraçado que a visão de muita gente sobre  morar nos Estados Unidos é até “glamurosa”, e claro, as pessoas não entendem o fato de querer voltar, Não vou negar que é um país que funciona, é primeiro mundo,  você tem acesso a estradas ótimas, segurança, uma economia mais estável. Consegue ter coisas que não teria no Brasil por conta do alto preço, o que normalmente é em função dos impostos altíssimos. Uns dizem sobre a escola gratuita, e posso até dizer ok, mas até agora não curti a escola das meninas, como também já falei em outros posts. Não posso negar que são escolas super arrumadinhas, com sala de informática cheia de IMac, horário extendido, almoço,  enfim. Claro que dá um banho na maioria das escolas públicas, digo municipais e estaduais do Brasil, mas não acho que seja melhor que um CAP da UFRJ ou até mesmo o Colégio Pedro II, mesmo sem eles terem essa infra-estrutura que citei. E perde pra muitas particulares também, inclusive para a que as meninas estudavam.

Aliás, criar filhos longe do seu país é bem diferente. E olha que elas são brasileiras e conhecem bastante de nossa cultura, mas confesso que fico imaginando se elas fossem americanas. Porque claro que depois de um tempo (não estou nem falando por mim, não deu ainda pra isso) , as crianças passam viver a cultura e tradições de outro país, e portanto, diferente  da cultura dos pais.  Eu vejo isso como um certo “distanciamento”, e não gostaria que isso acontecesse com as minhas filhas. Veja bem, não estou dizendo que as tradições de um lugar são melhores que em outro, apenas tenho orgulho de ser brasileira e quero que minhas filhas sintam isso também, e mais ainda, que conheçam nosso país e nossa cultura.

festa de 8 anos das meninas, feita antecipada no Rio. Meninas com todos os avós.
Festa de 8 anos das meninas, feita antecipada no Rio. Meninas com todos os avós.

Outra coisa que faz  querer voltar é a parte de criar as filhas longe da família. Não gostaria que elas fossem netas de 2 visitas por ano, até porque elas sempre foram super próximas aos avós, além de primas e tios. Acho esse convívio maravilhoso, tanto pra elas , como  pra eles. Além do fato de ser separada e a família ter uma participação muito maior na minha vida, apoiando, ajudando, sempre presente.  E quero ver minhas sobrinhas crescerem, minha afilhada, dar força pra família quando alguém adoecer, estar perto pra ajudar. E acho que alguns sabem, eu passei por 2 grandes “provas” nesse período: a primeira, foi a minha sobrinha/afilhada (a pequena que está na foto de Copacabana), teve uma baita pneumonia, água na pleura, parou no CTI e eu longe e arrasada; a segunda foi em junho, minha avó descobriu um tumor no rim, teve que tirar às pressas, minha mãe segurando uma barra enorme e eu longe. Isso é muito difícil.

Não estou dizendo que a experiência seja ruim. Acho que ela vale como aprendizado, não apenas da língua, mas de vida mesmo, e não só pras meninas, mas pra mim também. De viver longe, de sentir saudade, de conviver com isso. Aprender a se virar sozinho, a lidar com diferenças culturais e mais ainda, respeitar as diferenças.  Aprender a dar valor, seja à família, ao almoço de domingo, à beleza da cidade que nascemos, aos amigos de toda a vida, à ouvir nossa língua, à hospitalidade brasileira, à alegria do povo, aos momentos simples do cotidiano, em que estávamos cercados de pessoas que nos amam e que sem que a gente perceba, são os momentos que fazem a vida valer a pena. E confesso que não vai ser nada fácil ficar sem isso tudo nesses 2/3 do tempo que faltam pra voltar.

Claro que vai ter muita gente achando o post absurdo, tipo, como alguém não gosta de morar nos EUA? Ou algo como:”poxa, 6 meses e está reclamando?” Não estou reclamando, como falei antes, encaro como um desafio. E apesar da imagem esplendorosa de se viver nos Estados Unidos, é o tipo de coisa que só se sabe, quando acontece. Pra mim não existe ‘glamour’, é a minha segunda vez morando aqui, e está sendo bem diferente da primeira, até porque hoje tem as filhas e o fato de estar sozinha. E também conta muito, mas muito mesmo, o que faz a pessoa feliz. E o que me faz feliz é estar perto de quem amo, minha família e meus amigos, mesmo com todas as viagens que faço, é  com eles que quero estar  nos meus retornos.

Ah… nesse post, em vez de fotos da Flórida, fotos das nossas férias com a família no Rio.