Furacão Irma – Foto NASA

Então… o Furacão Irma passou aqui na Flórida e agora posso contar o que eu passei no antes e depois dele. Bom… eu confesso que só descobri que o Irma passaria quando minha filha falou que a amiguinha da escola já tinha feito todo o kit de sobrevivência. Aí pensei.. eita, que pai exagerado. Foi então que fui correr atrás de notícias. É fato que aqui tudo é mostrado exageradamente na TV. Weather Channel então é algo surreal. Como eu estava em Orlando quando o Furacão Matthew passou em 2016 e só rolou um ventinho e chuva, eu achei que seria a mesma coisa: muita notícia, muito alarde e na realidade só uma chuva mais forte com ventos.

aqui deveria ter alimentos enlatados, mas as prateleiras estavam vazia 5 dias antes do Irma chegar na Flórida

Eis que eu começo a ler o impacto do Irma nas ilhas do Caribe. Fiquei acompanhando o Instagram da  Lorrayne Mavromatis, que morava na ilha de St. Maarten e até os preparativos, ok, embora ele estivesse chegando lá com categoria 5. Ela parecia tranquila. Até que ela sumiu.. o que até aí é ok também, pois é normal acabar luz depois de um furacão e com essa intensidade. Mas quando surgiram notícias que a ilha estava devastada comecei a ficar apavorada. Ainda mais porque o Irma mudou de direção, com previsão de passar pelo Centro da Flórida. O medo aumentou também quando o governador da Flórida, Richard Scott (de quem virei fã), ordenou evacuação nas 2 costas sul da Flórida, a leste, onde fica Miami, Fort Lauderdale, e a oeste, onde fica Naples. Sem contar na evacuação das Keys (onde fica Key West). O cenário era assustador, embora eu soubesse que existe um exagero nas informações passadas aqui, uma coisa não existia dúvida, quanto ao tamanho do furacão Irma e sua potência. E óbvio que comprar comida e água estava complicado, acabava tudo muito rápido. Cheguei a comprar enlatados (embora meninas não comessem nada do que comprei), muitos biscoitos, e fiz muita comida, como frango assado, que até rola de comer frio. Eu acho que fui ao mercado umas 7 vezes, não apenas porque não achava coisas, mas pela ansiedade de achar que não tinha comprado o suficiente pra sobreviver ao furacão.

E a sensação é essa, a gente sabe que vai ficar bem, que não morreremos, ao menos aqui em Orlando, justamente pela localização central, pelo fato de furacão perder força quando bate no solo, mas sabe que pode ficar no perrengue por muitos dias. E o medo de ficar sem comida e pior, sem água? Com duas crianças?

parada na 10, estrada que liga a costa leste da Flórida até a parte noroeste. Muitos motorhomes.

Até então eu e o pai das meninas monitoramos o furacão de longe, achando que seria ok ficar em Orlando. A previsão era de que ele chegasse em Orlando na noite de sábado pra domingo. Mas Camila chegou da escola na quarta-feira apavorada, falando que todos os amiguinhos iriam embora de Orlando, e como é a atriz dramática da família, ela dizia que iríamos todos morrer. Olha, eu só imaginava a tensão de 3, 4 horas do furacão passando por aqui e a criança chorando dizendo que ia morrer. Conversei com o pai e decidimos sair da cidade. Fizemos isso em um comboio de 3 carros (tinha o carro do cliente dele também), e seguimos pro Norte da Flórida sem nada reservado, na cara e na coragem. Fiz um trajeto doido pra fugir do engarrafamento da I75, estrada que liga o sul ao norte da Flórida (na verdade vai até o Tennessee), afinal era o pessoal das 2 costas da Flórida, além das keys , além o povo apavorado como eu que não precisava evacuar mas evacuou, tudo pegando a mesma estrada. Começamos a viagem na madrugada de 5a para 6a, e tentamos em vão, procurar um lugar pra dormir no caminho, e é óbvio que não tinha nenhum hotel. Dava pra ter noção da loucura pelo trânsito e pelo estado das Rest Areas (áreas onde tem lugar pra comer, banheiros, e onde pode parar o carro/caminhão pra dormir pois eles garantem segurança noturna). Elas estavam lotadas, com carros parados além delas por cerca de quase 2 milhas, uma loucura. Eu, na tensão, não sentia mais sono, só queria sair do tal cone do furacão o mais rápido possível, mas o pai delas queria descansar, e achou um posto de gasolina fechado, perto da estrada em Lake City, bem ao norte da Flórida, onde muita gente fez isso também, parou o carro e dormiu. Ele dormiu e como meninas já tinham dormido a maior parte da viagem, cerca 6 horas, elas estavam acesas. Ficamos ali uma hora e meia conversando. O perrengue era tão grande que confesso que fiz xixi do lado do carro, na graminha, com meninas me escondendo com a porta do carro. Isso porque o posto estava fechado e não tinha banheiro perto, aliás, não tinha nada perto. Quando o pai acordou, sentamos de novo procurando hotel. Nada em Atlanta, nada no Tennessee, nada no Alabama perto da Flórida. Até que eu dei a ideia de continuarmos na Flórida mas ir em direção à Luisiana, e enfim achamos um hotel em Destin (vou escrever tudo sobre o destino nos próximos posts), noroeste da Flórida e que não estava no cone do Furacão. Dali pro destino foram mais 8 horas de viagem, afinal não fomos os únicos que tivemos essa ideia.

Nas estradas muitos motorhomes, muitos carros com bagagens em cima, muitos caminhões de mudança alugados, mostrando que as pessoas do sul da Flórida estavam com medo de perder tudo. Muitos cães nas paradas ,o que achei ótimo pois mostra que muitos não abandonaram. Aliás, o pai das meninas estava com a filha canina dele, a Lady.

Chegamos em Destin por volta das 16h da sexta-feira, bem cansados, inclusive pela tensão. Nem fiz nada, comi e dormi. Ficamos lá até a segunda-feira pós furacão, por lá só teve uma tempestade tropical bem fraca, daquelas que temos muito no Brasil.

vi muitas árvores caídas, só tirei foto dessa porque foi no eu condomínio

Na terça de manhã voltamos e eu confesso que embora todos os vizinhos tenham falado que “foi tranquilo” o negócio não foi bem assim… Muitas árvores caídas na estrada , sem contar que pegamos mais trânsito na I75. Foram mais 12 horas de viagem e o pior, não tinha gasolina no caminho, sorte que enchi na saída e deu pra chegar na Turnpike, mas foi tenso.  A cidade onde moro, Windermere, que fica ao norte do Walt Disney World, bem em cima do Magic Kingdom, sofreu com os ventos e tinha muitos galhos, muitas árvores caídas, uma bem em frente a onde eu moro. Mas como é uma cidade nova, onde a rede elétrica é praticamente toda por baixo da terra, não teve queda de energia longa, mas isso aconteceu em vários lugares da região de Orlando, uma amiga, a Silvinha, ficou uma semana sem luz, em pleno verão! O Consultório da minha homeopata também ficou sem luz por esse período e ela teve que cancelar as consultas por uma semana, e é ali perto da região turística. Os parques, que fecharam mais cedo no sábado e também no domingo, quando o furacão passou, tiveram também impacto, com queda de árvores e algumas coisas danificadas. Mas reabriram na segunda. Aliás foi a 6a vez na história que a Disney fechou os parques, ela também fechou na passagem do furacão Matthew em 2016.

Danos no Epcot
achei no twitter vários relatos de danos na Disney feitos pelo furacão Irma
quem não iria se assustar com as previsões?

A escola das meninas suspendeu as aulas naquela semana. E reabriu na segunda-feira seguinte com um esquema especial de comida, que ficou gratuita por um mês. Isso que achei fantástico e coisa do primeiro mundo, porque o governo fez um esquema pós furacão bem bacana. Óbvio que todo mundo gasta mais quando um furacão chega. Compramos coisas que não compraríamos como baterias, enchemos tanque de carro, viajamos quando precisamos evacuar e isso é mais custo, compramos comidas enlatadas que não comeríamos normalmente, lanternas, geradores, o kit é enorme, e o governo sabe disso. E aí por outro lado alivia. Os pedágios foram suspensos por 15 dias, antes, durante e depois do furacão. Não apenas para agilizar a passagem, mas para não doer no bolso de quem precisou evacuar. As escolas não cobraram comida por um mês. E teve até um benefício dado aos moradores da Flórida, em dinheiro, cerca de $1600 e ainda um cartão alimentação de mais $1000. Confesso que perdi essa oportunidade pois descobri tarde demais, mas muita gente conhecida pegou esse benefício, bastava apresentar o comprovante de residência e o Social Securtity (o CPF daqui).  É ou não é fantástica essa preocupação em ajudar a população?

Enfim… não me arrependo de ter saído de Orlando durante o furacão embora isso tenha gerado um gasto a mais. Camila não ia ficar bem e isso que importa, pois ela ficaria muito angustiada se não fôssemos. Foi um stress a viagem, sem dúvida, mas no fim deu tudo certo e ainda conhecemos Destin, um cantinho bem bacana da Flórida.