Não resisti e pedi ao querido Edu Starling para fazer esse post aqui no blog… e sim, ele entende bastante de vinho, inclusive já participamos de desgutação juntos.. No post ele conta sobre suas andanças pelas vinícolas chilenas.
Por Eduardo Starling
(Enófilo, Blogueiro, já teve vários blogs mas hoje colabora com o Abacaxi Voador e no The Balacobaco Theory )
Explorando vinícolas chilenas

Estive pela primeira vez no Chile em 2008. Na época, entrei de gaiato num pacote Argentina / Chile comprado pela então namorada e por 2 casais de amigos. Já gostava de vinhos, mas ainda não tinha bebido o suficiente pra me considerar um connoisseur (se é que um dia eu chego a esse patamar, mas isso é outro papo 😀 ). No pacote, estava incluída uma visita à Concha Y Toro – a mais emblemática vinícola chilena e uma das mais conhecidas do cone sul – e aproveitamos pra parar numa outra à beira da estrada para Viña del Mar. Nessa rápida experiência, uma das grandes lições da viagem: existia ainda um potencial enófilo ENORME a ser explorado, que merecia uma ou mais viagens só pra isso.
Passados quase 6 anos, tive a chance de colocar essa ideia em prática. Tive a oportunidade de viajar por no máximo 5 dias no mês de janeiro, mês onde é alta temporada em quase todos os lugares. O Chile é um caso à parte, em virtude da vocação que o país tem para turismo de neve (pelo menos no inconsciente do brasileiro). Sendo assim, lá fui eu passar 4 dias em Santiago e arredores – pagando menos do que eu pagaria caso fosse para o nordeste brasileiro, por exemplo.
Planejamento

Dentro do tempo que eu tinha disponível, não dava para fazer uma viagem muito extensa às principais regiões viníferas chilenas. Viajando sozinho, ficava um pouco caro alugar van ou táxi só para esse fim. Li em vários sites que uma boa saída seria contratar passeios de 1 dia em empresas locais. Realmente há uma boa oferta de passeios. Mas ao ler os detalhes, vi que eram quase sempre as mesmas vinícolas visitadas, e muitas boas opções ficavam de fora, considerando opiniões de amigos e contribuições registradas no TripAdvisor. Acabei optando por alugar um carro e explorar as vinícolas que eu queria.
Em praticamente todas, recomenda-se que se agende a visita com antecedência. Especialmente quando se vai com grupos grandes, e quando se opta pelos passeios mais completos. Para conquistar o turista, as vinícolas incrementam bastante o passeio: incluem cavalgadas, piqueniques, passeios de bicicleta, etc. No meu caso resolvi arriscar e conhecer tudo em cima da hora mesmo, pois estava mais interessado em ouvir sobre os vinhos e provar o máximo que eu pudesse.
Ao montar o roteiro, é recomendável que você tenha uma mínima noção de cada região produtora. Isso ajuda inclusive a decidir que vinícola ir e que vinhos beber, sem falar na questão da distância. Ao montar meu roteiro, tomei algumas decisões:

Não visitaria nenhuma do Valle Central. Além da Concha Y Toro, poderia conhecer a Undurraga e a Cousino Macul (ambas acessíveis por metrô + taxi), mas deixei pra conhecer opções mais distantes.
Fazer visitas “bate e volta” – usando Santiago como base. Não era a melhor opção, mas foi o que deu pra fazer.
Visitar o Valle do Colchagua, que tem dezenas de vinícolas boas (em especial na produção de tintos) e de onde tive boas referências de amigos.
Visitar o Valle do Casablanca, que é relativamente próximo a Santiago, e produz excelentes brancos e espumantes.
Vale do Colchagua
Não fica tão pertinho assim: são cerca de 170km de distância de Santiago. Mas pra quem tem raça pra viajar de carro, é tranquilo de fazer. O vale se subdivide em dois: Cachapoal (ao norte) e Colchagua (ao sul). Optei por fazer degustação nas vinícolas Viu Manent, Lapostolle e Casa Silva (que faz o conhecido vinho Doña Dominga). Meu plano original era ir na Lapostolle de manhã, almoçar na Viu Manent e ir de tarde na Casa Silva. Acabei atrasando pra retirar o carro na locadora e cheguei no Vale na hora do almoço: fui direto pra VM.

Antes de almoçar, vi que eles faziam uma mera degustação de vinhos sem tour pela vinícola. Como tinha uma começando em inglês para um grupo de americanos, resolvi aproveitar. Foi a degustação mais em conta que eu fiz em toda a viagem, e consequentemente a que não ofereceu os vinhos top de linha para serem provados. Sinceramente? Não vale a pena. Almoçar no restaurante deles no entanto é um evento imperdível: lugar agradável, boa comida e preço justo. De sobremesa, ainda provei o excelente licoroso de Malbec feito por eles (imitando os vinhos do Porto).
Saindo de lá resolvi ir direto na Lapostolle, uma das mais recomendadas por amigos. É um passeio IMPERDÍVEL! Eu tinha agendado um tour por lá para o dia, mas acabei perdendo o horário em virtude do atraso na locadora. Falei do problema para o staff de lá e chegamos a uma boa solução: paguei o preço de um tour, mas fiz só a degustação com a parte indoor do passeio. A vinícola é toda bem planejada, e os vinhos são sensacionais. Se você reservar com uma certa antecedência (acho que 4 dias, não lembro), pode fazer o passeio nas plantações a cavalo. Saindo de lá parei na Montes Alpha para comprar uns vinhos (não fiz a degustação), e acabei perdendo o agendamento que fiz na Casa Silva. Fica pra próxima.
No caminho, vi placas de dezenas de outras vinícolas, muitas delas relativamente conhecidas aqui no Brasil. Pela distância, acho que o melhor seria passar uma noite ali por perto pra explorar com mais calma. Algumas dessas vinícolas tem inclusive pousadas próprias – eu fatalmente ficaria na Lapostolle.
Vale do Casablanca
Meu plano inicial era sair de manhã, visitar uma vinícola antes do almoço (ou Emiliana, ou Casas del Bosque), almoçar no restaurante da vinícola Indómita e escolher o destino da tarde: ou outra vinícola, ou uma volta por Valparaíso (cidade litorânea ali pertinho). Acabei gastando mais um tempo no centro de Santiago: câmbio na Calle de la Moneda e uma chegada rápida no Mercado Central. Na boa: não vale. Nem cheguei a entrar, de fora vi que é o autêntico passeio pega-turista. De lá, peguei o carro e peguei a ruta 68 em direção a Valparaíso.

No caminho, vi que a primeira da minha listinha era a Emiliana, e aproveitei pra já fazer uma parada. A propriedade da vinícola é lindíssima, com parreiras e oliveiras entremeados por vegetação local, roseiras, etc. Toda a produção deles é orgânica (ou seja, não usa fertilizantes e defensivos agrícolas industrializados) – tanto de vinhos quanto de azeites. Muita gente não dá bola pra isso, mas já existem estudos relacionando a dor de cabeça da ressaca de vinho aos sulfitos que muitos produtores adicionam ao mosto para facilitar o processo de fermentação e minimizar a oxidação (que transformaria o vinho em vinagre). Mais uma vez optei pela degustação, mas lá se você ligar com 2 dias de antecedência pode agendar um tour de bicicleta pelos vinhedos, finalizando com um piquenique (isso com certeza vou fazer na próxima ida pra lá). Na degustação colocam vinhos de todos os patamares de qualidade, inclusive um dos tops deles, o Coyam (palavra mapuche que significa ‘carvalho chileno’), um ótimo tinto feito com Syrah, Carmenere e Merlot. Apesar disso, o carro chefe da Emiliana é produzir vinhos brancos (pode comprar sem medo). Aproveitei o embalo e, na conversa sobre vinho e gastronomia, consegui que trouxessem uma pequena prova do azeite deles – simplesmente espetacular !

Saindo de lá já perto da hora do almoço, peguei o retorno para ir à Indomita. O restaurante da vinícola fica no alto da colina, mas não consegui encontrar exatamente onde entrar à beira da estrada. Optei por almoçar na Casas del Bosque: restaurante excelente, vinhos bons mas ao meu ver um pouco caros. Aí depois do descanso da tarde numa espreguiçadeira ao lados das vinhas, preferi pegar a estrada de volta a Santiago.
No Casablanca não tem tanta diversidade quanto o Colchagua, mas são vinícolas tão simpáticas que já acho que valeria dormir uma noite por lá também.

O que faltou fazer
Consegui conhecer um pouco melhor as regiões vinícolas do Chile e seus produtos, mas ainda assim 4 dias (incluindo os que gastei em Santiago) acabam ficando bem corridos. Se eu montasse essa viagem HOJE, talvez só me programasse pra explorar bem o Colchagua e o Cachapoal. Não é tudo que o Chile tem pra oferecer de enoturismo, mas já seria uma viagem e tanto.
Ótimo relato, parabéns.
Estive no Chile em abril/2016 e visitei várias vinícolas ao redor de Santiago, no Colchagua e em San Antonio. Segue o relato, espero que possa ser útil:
https://vinhagem.wordpress.com
Las viñas tienen una atencion excelente…
Gostaria de tirar uma dúvida:não há disponibilidade de agências locais que façam os translados de Santiago para as vinícolas e vice-versa, evitando assim vc ter que alugar carro e dirigir…?Ou mesmo agência que realize as programações de visitação às vinicolas..?Alguém conhece..?
Eu descobri que é possível ir às vinículas de metrô, ou seja, sai em média 4 reais (700 pesos chilenos) e a entrada em média 50 reais.
Em qualquer estação pergunte aos guardas que eles vão te informar..desce bem próximo a concha Y toro…rsrsrsrs…de verdade!
Olá, fique tranquila o que mais tem lá em Santiago são agencias para fazer esses passeios, fui fevereiro e em uma das voltas pelo Plaza de Armas fui abordada por uma brasileira que mora lá e faz turismo, com translados direto do hotel. Brasileiros são abordados em todos os lugares para todo tipo de prestação de serviço desde comida a Cordilheira dos Andes.
Um nome de agencia para voce pesquisar é a Turistik , tem muitas e da pra pechinchar.
Boa matéria, em relação as Vinícolas, na minha opinião o Valle da Casablanca é mais pitoresca para uma ida de 5 dias ,par incluir o Vale do Colchagua sem perder hora ou perder partes das visitas deve ser de 07 a 10 dias para poder curtir o local e a cultura local como andar de bicicleta que é marcante e delicioso.
Quanto ao mercado que é sensacional, os restaurantes são imperdível com frutos do mar diferentes apenas encontrado na costa do Chile , imperdivelmente delicioso.
O Chile é caro, pode comparar os nossos valores e um pouco mais, mas vale cada centavo.
Bom dia 1
Estou indo em Março dia 25 , gostaria de conhecer, qua o valor?
Muito boa a materia. Parabéns.
O Chile está se posicionando a cada dia como um dos melhores destinos de vinhos da América Latina. As empresas estão tomando a serio o processo de produção e os tours nas vinícolas, nos dando assim uma amplia possibilidade de escolhas.
Nós estamos trabalhando fortemente para mostrar e posicionar novas vinícolas e assim poder oferecer ainda mais opções para nossos viajantes.
Se possível gostaria de deixar aqui um convite aos leitores de visitarem a nossa web onde encontrarão excelente dicas para visitar o Chile.
Muito obrigado.
Vamos para o Chile em setembro e gostaria de saber sobre o clima e umas dicas de quais vinicolas visitar. Obrigada
Quando fui, visitei a vinícola Undurraga. Fui por conta própria, sem grupo, liguei pra lá e fui. Tinha ido a muitas vinícolas antes mas essa sem dúvida nenhuma foi a melhor de todas. Não sei se foi pq a visita foi quase particular ( na hora só foi a minha família e uma família argentina) ou se foi o guia da vinícola que era sensacional. Ese guia disse que tivemos sorte pq depois chegaria um ônibus de turismo e ele teria que gritar para todos o ouvirem. Mas ele explicou cada detalhe, nos deu a uva do pé para experimentar, falou um pouco da história das vinícolas da região além da própria história. E o vinho era muito bom. Recomendo muito.
Obrigada pela dica Guilherme!
Ola, estou indo agora em janeiro/2015 com meus filhos 13 e 7 será que são permitidas a entrada das crianças ?????
Fui em março com minha filha de 2 anos na Undurraga e não tivemos problemas. Claro que ela só olhou e comeu muitas uvas.
Estou indo para o,Chile em Janeiro, vou faser as viniculas de carro. Gostaria de saber quem fez o mesmo se teve akgum tipo de problema com a policia.
Olá,
estou indo para o Chile em janeiro, na primeira quinzena, alguém já esteve lá nessa época, ainda estou em dúvidas em relação ao clima. E quero conhecer três vinícolas onde possa fazer uma degustação durante o almoço , como a Bouza em Montevidéu, se for possível alguém me auxiliar , agradeço.
Muito bom o relato, também estive na Concha & Toro na minha visita ao Chile.
Na época ainda estava na minha formação em vinhos.
Acabei de conhecer o site. Parabéns tem muitas boas dicas.
Enoabraços,
Camila
http://www.enoestilo.com.br
http://www.vinhoedelicias.com.br
oi Camila, bem vinda e obrigada pela visita! enoabrabraços!
Passei 7 dias em Santiago. Fui visitar a Indómita, entre outras vinícolas, onde paramos para o almoço com degustação. Amei… o restaurante e o atendimento foram simplesmente excelentes. Voltarei…
Achei excelente seus comentário e irão me ajudar bastante para preparar o roteiro de novembro, porém me restou uma duvida, lá não existe Lei Seca? Ou seja pode beber e dirigir? Ótimo isto!!
Teresa, quando fui em maio fiquei preocupado também com a lei seca. Dentro de santa cruz no vale do colchagua não vi nenhuma fiscalização, mas deve ficar atenta. Para visitar as vinícolas nso tem jeito tem que ser de carro, pois elas são perto da cidade de Santa cruz. Contratar jm motorista seria uma opção mas não é barato.
Gostaria de fazer alguma observações em relação ao texto do Edu Starling sobre alguns pontos turisticos da cidade de Santiago de Chile,sou brasileiro e morei de 1997 a 2011 no Chile, e tive a oportunidade de cursar a Faculdade de Turismo nesse País e discordo sobre os comentarios feito em relação a Centro Histórico. Considero uma oportunidade imperdivel para o turista e incluo o Mercado Central com sua gastronomia tipica(e jamais pode ser considerado um “caça turista”.
Acredito que Edu perdeu uma grande oportunidade de provar a verdadeira gastronomia chilena espero que para sua proxima viagem deixe de lado seu preconceito elitista e com a mente aberta possa provar mariscos da melhora qualidade.